sexta-feira, 31 de julho de 2015

LEITURAS 2015 - XXVI - "SEMPRE O DIABO"



Há quanto tempo não lia um livro que me "amarrasse" assim? 

Desde a primeira página que fiquei preso e agarrado a este livro -sente-se logo que estamos perante um imenso livro, daqueles que estamos sempre ansiosos e a espreitar a página seguinte-.

Na linha do excelente "FERRUGEM AMERICANA", este "SEMPRE O DIABO" é o primeiro romance de Donald Ray Pollock, com uma escrita que me arrastou da primeira à última página, sempre, repito, ansioso pela seguinte; um enredo muito parecido ao que leio nos livros das excelentes Flannery O'Connor e Joyce Carol Oates.

Personagens cruéis, vingativos a respirar ódio por todos os poros, ambientes negros e terríveis em que não há lugar a mais nada para além do ódio, da maldade, da vingança de pessoas sem objectivos na vida arrastando-se em situações que apenas visam a degradação das suas e das vidas dos outros que se encontram à sua volta e dos que vão encontrando pelo caminho. E assim vamos conhecendo o ser humano, porque esta gente existe. Até a alma me doeu!

Localizado no sul do Ohio e da Virgínia, a intriga de "SEMPRE O DIABO" segue um elenco de bizarras e magnéticas personagens, desde o fim da Segunda Guerra Mundial até aos anos 60. 

Willard Russel veterano da 2ª. Guerra Mundial, atormentado pela carnificina no Pacífico Sul, uma personagem magnífica e duma grandeza imensa mas que perante o cancro terminal da sua esposa entra, como se costuma dizer, em "parafuso". Decide criar na floresta perto da sua casa um altar de orações onde sacrifica animais, vertendo o seu sangue sobre o tronco das orações e criando um ambiente absolutamente lunático e que marcam profundamente o seu filho Arvin, um adorador da imagem e da personalidade do seu pai, pois assiste a cenas absolutamente marcantes do seu progenitor, cenas tão bem descritas que há muito tempo não lia um livro em que para além das palavras eu VI as cenas!  

Se "CANADÁ" de Richard Ford foi o livro que mais gostei em 2014, este "SEMPRE O DIABO" foi, dos que li até agora, o que mais me prendeu e o que mais me encantou em 2015.

FASCINANTE!

Donald Ray Pollock - 01.01.1954 - Knockemstiff, Ohio, EUA



quarta-feira, 29 de julho de 2015

A VOLTA A PORTUGAL EM BICICLETA 2015


77ª. VOLTA A PORTUGAL EM BICICLETA



Como se permite chamar VOLTA A PORTUGAL a uma "competição" que decorre apenas em metade do país? de Lisboa para sul não será Portugal?
enfim...é o vale tudo.

sábado, 25 de julho de 2015

LEITURAS 2015 - XXV - O BARÃO DE LAVOS - ABEL BOTELHO


Livro escrito há mais de cem anos pelo escritor português Abel Botelho, foi publicado em 1891, com grande escândalo dado o tema abordado: o homossexualismo e a pedofilia.

Está considerado o primeiro livro publicado em Portugal sobre o tema. 
Atrevo-me a dizer que, em termos de conteúdo, dentro da mesma paridade literária, nada ficará a dever a "Lolita" de Vladimir Nabokov ou a "Morte em Veneza" de Thomas Man. 

É de uma linguagem nua e crua abordando o homossexualismo sem quaisquer rodeios tendo certamente, à data da publicação, provocado muito "barulho" já que a sociedade (monárquica) era dominada por um conservadorismo e clericalismo que não davam tréguas a qualquer liberdade que ultrapassasse os (bons) costumes da época. 

"O BARÃO DE LAVOS", homem de elite e da alta sociedade lisboeta, casado com Elvira, retrata a vida e queda de Sebastião, o Barão de Lavos, que se apaixona por um jovem vendedor de rua (Eugénio), rapaz de 16 anos sem eira nem beira nem quaisquer modos de educação.

Com o intuito de aprofundar a sua relação com o rapaz acolhe-o (cedendo-lhe uma das suas casas, na Rua da Rosa, com criada para o servir, cama, (boa) mesa e roupa lavada) e educa-o nas artes e convenções da alta sociedade de modo a integrá-lo nos círculos sociais da elite lisboeta. Só que a sua paixão cega, ignora todos os riscos e perigos que lhe irá trazer esta vida de pederasta. 
Assim, na pessoa da sua paixão (Eugénio) se revelarão os mais baixos sentimentos mostrando a torpeza e indignidade a que a ganância poderá conduzir alguns seres humanos.

Elvira, sua mulher, acaba por traí-lo com Eugénio, tudo se começando a desmoronar e a queda de Sebastião dá-se a pique, caindo (com o seu vício pederasta) na mais extrema miséria acabando a vegetar na lama e no lixo das ruas de Lisboa entre toda a bandidagem, gente da pior espécie e a maior escumalha das profundezas da capital do reino.  
 1855 - Tabuaço (Viseu) - 1915 Buenos Aires (Argentina)


terça-feira, 21 de julho de 2015

LEITURAS 2015 - XXIV - "O TEMPO ENVELHECE DEPRESSA" - ANTÓNIO TABUCCHI



Todas as personagens deste livro (de contos) parecem estar empenhados numa confrontação com o tempo: - o tempo dos acontecimentos que viveram ou estão a viver e o tempo da memória da consciência.

O tema desperta expectativas, não desperta? só que mais uma vez um livro deste autor me desiludiu e por isso mesmo não me vou alongar muito sobre ele. Não gostei, devo até confessar que nem li todos os contos pois quando o livro não me consegue "agarrar" às primeiras cinquenta páginas, dificilmente conseguirei lê-lo até ao fim, torna-se uma mastigação difícil, enrola, enrola... 
Mas tem uma bonita capa.

Deste mesmo autor já tinha lido três livros (Afirma Pereira; Tristano Morre e Nocturno indiano) mas também, nenhum deles, me despertou um interesse especial, apenas ficou a indiferença e este "O TEMPO ENVELHECE DEPRESSA" foi mais um.


António Tabucchi  -   Pisa (Itália) 1943  - 2012 (Lisboa)

sexta-feira, 17 de julho de 2015

LEITURAS 2015 - XXIII - "conta-corrente 5" - VERGÍLIO FERREIRA



O estilo e o modo de escrever de Vergílio Ferreira prendem-me. Cada palavra, cada frase é quase um ensinamento. E nestes diários que estou a reler isto é bem visível. 
Leio e releio e é sobretudo na releitura que confirmo o grande escritor que foi.

Este "conta-corrente 5" aborda os anos de 1984 e 1985 e é, tal como os quatro anteriores, excelente. 
Permito-me salientar alguns trechos que anotei:

-A vida devia ser insuportável se inteiramente previsível.

-Um vilão não é de perder a oportunidade quando tem a vara na mão.

-O que mais se vê é o que nunca se vê. Por exemplo, ao lado deste sofá onde todos os dias me sento tenho uma estante de livros. Olhos todos os dias nunca os vejo.

-As histórias dos romances lidos, por exemplo, evaporam-se como ar.

-O comer e o coçar vai do começar.

-Num mundo de cegos quem tem um olho é aleijado.

-O contrário da justiça é a caridade.


Vergílio Ferreira - 1916 - 1996


segunda-feira, 13 de julho de 2015

LEITURAS 2015 - XXII - "O RELÓGIO DO CÁRCERE" - JOSÉ RIÇO DIREITINHO



Tendo como cenário o mesmo mundo rural que José Riço Direitinho elegeu como palco das suas ficções anteriores e, mais uma vez, retratando muito bem um país que aos poucos está a desaparecer, a acção de "O RELÓGIO DO CÁRCERE" decorre entre o início de 1832 e os primeiros meses de 1834, no lugar imaginário de Vilarinho dos Loivos, o mesmo onde decorreu o cenário do livro que deste mesmo autor li anteriormente, e de que também já tinha gostado imenso, o excelente "BREVIÁRIO DAS MÁS INCLINAÇÕES". 

O fidalgo da Casa do Seixo, Afonso Aires de Navarra (a quem, apesar de ainda não ter completado trinta anos chamavam há muito tempo "O VELHO"), e António de Soutelinho (que o acaso fez um dia guerrilheiro) são as duas personagens principais desta história onde ecoam os rumores da queda anunciada da Monarquia Absoluta e da sua substituição por um regime liberal.

Depois do muito que gostei do "Breviário das Más Inclinações" este livro confirma um lugar de destaque que José Riço Direitinho já ocupa, por direito próprio, no panorama da nova ficção nacional. 

Gostei deste livro que nos mostra um mundo rural português que está a desaparecer se não desapareceu já na quase totalidade.

Um escritor a seguir.

José Riço Direitinho nasceu em Lisboa em Julho de 1965, sendo licenciado em Agronomia
"A CASA DO FIM" maca a sua estreia literária, em 1992.
Os seus livros estão traduzidos na Alemanha, Holanda, Itália, Espanha, França, Inglaterra e Israel, sendo a sua obra reconhecida como uma das mais representativas da nova geração europeia.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

LEITURAS 2015 - XXI - BARTLEBY & COMPANHIA - ENRIQUE VILA-MATAS





Bartleby é uma memorável personagem de um conto de Herman Melville, um escriturário que faz cópias de documentos burocráticos e que dia após dia entra no escritório, onde, aliás, vive, aparenta não ter vida para além da sua mesa de trabalho não conversando com ninguém, escondendo-se no seu canto, e que, quando o encarregam com algo ou lhe perguntam qualquer coisa sobre si, responde invariavelmente: PREFERIA NÃO O FAZER.


Bartleby o escriturário 

Nesta obra, Vila-Matas dedica-se a escrever sobre escritores "bartleby", isto é, aqueles que não escrevem ou estão longos períodos inactivos, paralisados devido a prolongadas crises de inspiração, adiando a hora de escrever ad infinitum... 

Um desses escritores "bartleby" foi o suiço Robert Walser que passou os vinte e oito últimos anos da sua vida encerrado em manicómios, entregue a uma frenética actividade de letra microscópica, fictícia e indecifrável numa linguagem sem qualquer sentido, nuns minúsculos  bocados de papel.


Robert Walser - Suiça  1878-1956
Fala-nos daqueles escritores que se apagam para deixar que os outros assinem as suas obras, como é o caso da autora de "O Divã", um conto assinado por Göethe e escrito pela sua amante.

Dedica ainda a sua atenção a Kafka, Samuel Bechett, Hermann Melville, Marcel Proust, Fernando Pessoa, incluindo ainda muitos outros escritores. 

Talvez devido às grandes expectativas que depositei neste livro, fundamentalmente devido à extraordinária personagem de Herman Melville, este livro não correspondeu inteiramente à expectativa que nele depositava; quase sempre isso me acontece quando a expectativa é demasiado elevada.  

Não deixa no entanto de, na minha perspectiva, ser um bom livro deste excelente escritor espanhol.
Enrique Vila-Matas - Barcelona 1978

domingo, 5 de julho de 2015

LEITURAS 2015 - XX - BREVIÁRIO DAS MÁS INCLINAÇÕES - JOSÉ RIÇO DIREITINHO



Esta é a história de José de Risso, uma espécie de santo popular, nascido com um sinal vermelho no meio das costas, em forma de folha de carvalho. Um sinal de onde sangra de cada vez que faz um milagre.

São muitas as malvadezas de José de Risso ao longo dos seus 33 anos de vida, entre 1923 e 1956 na localidade ficcionada  de Vilarinho dos Loivos, no norte de Portugal, próximo da fronteira com a Espanha.

Este romance "agarrou-me" da primeira à última página. O seu protagonista José de Risso nasce de um relacionamento ocasional entre uma mulher de Vilarinho dos Loivos e um caixeiro viajante. A mãe morreu após o parto e o pai desapareceu após a primeira noite em que se encontraram.

Uma surpresa, um livro absolutamente surpreendente em que o autor nos dá a conhecer os rituais das gentes do campo (de então). Fascinante.


José Riço Direitinho é um dos jovens escritores portugueses mais elogiados pela crítica nacional e internacional.  




quarta-feira, 1 de julho de 2015

LISBON SOUTH BAY

Almada, Seixal e Barreiro no editorial do jornal «Público»<br />
Lisbon South Bay ou o Sul ridicularizado<br />

Depois do ridículo Allgarve a ignorância continua a avançar (a passos largos), agora é Almada, Seixal e Barreiro que se transforma em Lisbon South Bay.

E é assim que este povo está a ser "educado" basta ver os vários programas das três TV´s com títulos estrangeirados, daí sermos, como dizia um grande escritor português, um povo com dez milhões de analfabetos alguns dos quais sabem ler. Oiço diariamente na rádio indivíduos com responsabilidades a falar em que por tudo e por nada invocam estrangeirismos que, sinceramente, não percebo, nem eu nem com certeza a maioria dos ouvintes.

Esta gente (autênticos vendidos por um prato de lentilhas) parece querer esquecer a sua língua, a sua cultura, as suas origens e caiem neste ridículo e nesta completa parolice.