terça-feira, 28 de abril de 2015

LEITURAS 2015 - XIII - HENRY DAVID THOREAU




"Walden ou a vida nos bosques" terá sido, porventura, o livro que trouxe mais notoriedade a HENRY DAVID THOREAU. Este "CAMINHADA" será a sua derradeira exposição sobre a natureza.

Thoreau era um andarilho, não um desportista "a caminhada a que me refiro nada tem a ver com a prática do exercício...". Thoreau praticava a caminhada como terapêutica natural e era um observador nato e exímio da natureza, da fauna e da flora.

"Caminhar sem rumo é uma grande arte

Thoreau era um naturalista e apreendeu a vantagem da vida natural e livre.

Thoreau era um escritor ecologista, humanista, libertário e pacifista que inspirou a vida de personalidades como Ghandi, Martin Luther King e Tolstoi.

Um visionário, e só para o ficar a conhecer um pouco melhor já valeu a pena ler este pequeno livrinho de pouco mais de oitenta páginas, escrito há cerca de duzentos anos.

Nos primórdios da industrialização americana, Thoreau entrevia precocemente um declínio civilizacional e os perigos da sociedade materialista prevendo já a "mutilação" da natureza e a chegada do consumismo. Um visionário!
EUA    -   1817-1862


sexta-feira, 24 de abril de 2015

LEITURAS 2015 - XII - "12 ANOS ESCRAVO"




Não obstante a escrita simples e ágil, "12 ANOS ESCRAVO" a obra que originou o filme com o mesmo nome, é talvez dos únicos livros em que gostei mais do filme o que do livro.

Nele se retrata a história de SOLOMON NORTHUP (escrita pelo próprio), um homem negro nascido livre nos Estados Unidos, que em 1841 vivia em Nova Iorque com a mulher e os filhos e ali levava uma vida pacífica entre os dotes de carpinteiro e o talento de tocar rabeca.

Após ter recebido de dois homens uma falsa proposta de trabalho, e após uma noite de copos, foi sequestrado, drogado e comercializado como escravo, tendo passado doze anos em cativeiro, trabalhando, na maior parte do tempo, numa plantação de algodão na Louisiana, onde sofreu as piores agruras que, na altura, um escravo poderia sofrer.

Após o seu (dificílimo e conseguido sabe-se lá como) resgate e ao fim de doze anos de grande sofrimento, Northup, com uma escrita simples, retrata os momentos mais marcantes e de absoluto sofrimento sofridos durante esta sua vida de escravo.  

Este é um dos poucos retratos da escravidão americana, redigido pelo próprio (Solomon Northup), uma pessoa que viveu a sua vida sob a óptica de uma dupla perspectiva: ter sido tanto um homem livre como um escravo.

Gosto de ler estes livros que retratam o sofrimento do homem que é imposto por outro homem, e era bom que nunca fosse esquecida esta negra fase da humanidade, que, infelizmente, a qualquer momento poderá voltar a acontecer, já que, em qualquer sociedade continua a haver espezinhadores e espezinhados.



segunda-feira, 20 de abril de 2015

LEITURAS 2015 - XI - "ESTRADA PARA LOS ANGELES"




Aos dezoito anos Arturo Bandini vive com a mãe e a irmã em San Pedro, perto de Los Angeles. Obrigado, pela morte do pai e pela grande crise de 1929, a trabalhar em empregos duros e mal pagos, tem nas revistas pornográficas o seu único alívio, um hábito muito censurado pela beatice da mãe e da irmã. As suas outras leituras consistem nos livros que procura na biblioteca, obras de grandes autores como Nietzsche e Schopenhauer, que Arturo mal compreende mas que gosta de se gabar de ter lido. É ateu e simpatizante do comunismo russo (o que gera o medo dos seus compatriotas). Em ESTRADA PARA LOS ANGELES deparamos com muitas situações que nos surgem ao longo da vida.

A saga de Arturo Bandini é composta por quatro romances: A PRIMAVERA HÁ-DE CHEGAR, BANDINI, publicado em 1938; ESTRADA PARA LOS ANGELES, publicado postumamente em 1985, embora tenha sido o primeiro a ser escrito e o segundo volume do quarto; PERGUNTA AO PÓ, publicado em 1939; e por fim SONHOS DE BUNKER HILE, ditado à mulher depois de o autor ter ficado cego em 1978, depois de em 1955 ter sido atingido pelos diabetes. Morreu em 1983, aos 74 anos.
John Fante  1909-1983

JOHN FANTE - poderei colocá-lo no patamar daqueles escritores transcendentes como Philip Roth, Saramago, Vergílio Ferreira. Uma escrita para ser lida com a máxima concentração. 

Alguém me disse (ou li algures) sobre John Fante que era um dos mais influentes escritores (esquecidos) da literatura norte-americana e olha que me parece bem acertado. 

Este é um bom livro, apesar de, repito, eu o considerar um livro nada fácil, que requer atenção, daqueles que nos obriga a pensar (o que mais gosto na literatura).

É um livro com uma história coleante, peganhosa, que se nos cola à pele e que deixa um rasto como o rasto de um caracol numa estrada de alcatrão. 

quarta-feira, 15 de abril de 2015

LEITURAS 2015 - X - "A PAPOILA E O MONGE"




Este livro de JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA de centena e meia de poemas, composto por três versos curtos em cada página também ainda não me conseguiu "arrastar" para a poesia. 

"A PAPOILA E O MONGE" é o resultado de uma viagem que este poeta madeirense realizou ao Japão e resultou nesta forma de poesia de origem japonesa que se baseia maioritariamente nas relações entre o homem e a natureza. 

Efectivamente, apesar das minhas ocasionais tentativas, continuo a não ter qualquer proximidade com a poesia, nem mesmo com esta forma de poesia com versos tão curtos.

Tudo é efémero:
ontem escutava a tua voz
hoje só o vento

Recordo sempre as palavras de um amigo, mais velho do que eu, e que gostava muito de música clássica e de ópera e face à minha rejeição me dizia que, tal como ler, também da música e da ópera se aprende a gostar e talvez seja esse, porventura, também o caso da poesia. Porém...  



domingo, 12 de abril de 2015

LEITURAS 2015 - IX - FOTOBIOGRAFIA VERGÍLIO FERREIRA




Para além de retratar (no pleno sentido da palavra) a obra de Vergílio Ferreira, esta fotobiografia, muito bem organizada, delicia-nos com fotos de muita gente com quem o escritor conviveu, bem como retrata igualmente muito bem o seu âmbito familiar.

Contém uma autobiografia, também excelente, escrita naturalmente pelo próprio escritor em Maio de 1977.  

De lá retiro este excelente texto:

...e a minha biografia deve ter findado aqui. Lisboa é um sítio onde se está, não um lugar onde se vive. Mesmo que lá se viva há 18 anos, como eu.
Perguntam-me com frequência se eu não me sinto realizado. Respondo sempre que não. Porque eu sou maior do que eu e só me sentiria realizado se fosse do mesmo tamanho. 


quarta-feira, 8 de abril de 2015

CARTA DE DESPEDIDA DE GABRIEL GARCIA MARQUÉZ


Viajando pelo mundo virtual na procura de notícias e novidades literárias, descobri uma verdadeira pérola de literatura, que aqui me atrevo a reproduzir.

É uma carta escrita em jeito de despedida pelo grande escritor colombiano Gabriel Garcia Marquéz, pouco antes de morrer e numa altura em que se aproximava da demência senil. Revelada ao mundo pelo seu irmão Jaime Garcia Marquéz:  

"Se, por um instante, Deus se esquecesse de que sou uma marioneta de trapo e me presenteasse com um pedaço de vida, possivelmente não diria tudo o que penso, mas, certamente pensaria tudo o que digo. Daria valor às coisas, não pelo que valem, mas pelo que significam. Dormiria pouco, sonharia mais, pois sei que a cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz. Andaria quando os demais parassem, acordaria quando os outros dormem. Escutaria quando os outros falassem e desfrutaria de um bom gelado de chocolate.

Se Deus me presenteasse com um pedaço de vida vestiria simplesmente, jogar-me-ia de bruços no solo, deixando descoberto não apenas meu corpo, como também a minha alma.

Deus meu, se eu tivesse um coração, escreveria o meu ódio sobre o gelo e esperaria que o sol saísse. Pintaria como um sonho de Van Gogh sobre as estrelas um poema de Mário Benedetti e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à Lua. Regaria as rosas com as minhas lágrimas para sentir a dor dos espinhos e o encarnado beijo das suas pétalas.    


1927 - 2014
Deus meu, se eu tivesse um pedaço de vida!...Não deixaria passar um só dia sem dizer às pessoas: amo-te, amo-te. Convenceria cada mulher e cada homem de que são os meus favoritos e viveria apaixonado pelo amor. 

 Aos homens, provar-lhes-ia como estão enganados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saber que envelhecem quando deixam de se apaixonar.

A uma criança, daria asas, mas deixaria que aprendesse a voar sozinha.

Aos velhos ensinaria que a morte não chega com a velhice, mas com o esquecimento. 

Tantas coisas aprendi com vocês, os homens...Aprendi que todos querem viver no cimo da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a rampa. Aprendi que quando um recém-nascido aperta, com sua pequena mão, pela primeira vez, o dedo do pai, tem-no prisioneiro para sempre. Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se.

São tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas, a mim não poderão servir muito, porque quando me olharem dentro dessa maleta, infelizmente estarei a morrer."

sexta-feira, 3 de abril de 2015

LEITURAS 2015 - VIII - conta corrente 2 - VERGÍLIO FERREIRA



Continuo a reler "conta corrente", esta excelente narrativa sob a forma de diário (em nove volumes) do que foi a vida portuguesa entre 1969 e 1993. 

Acabei de reler "conta-corrente 2" que relata o período entre 1969 e 1976.

Mais um excelente diário que nos dá uma belíssima perspectiva da vida de um cidadão comum contada por um cidadão que é escritor e não é comum.

Sempre que leio um livro de Vergílio Ferreira estou munido de um lápis e de um caderno em que assento pensamentos seus absolutamente marcantes, alguns de excelente humor:


Vergílio Ferreira  1916-1996

-não fui eu que fiz os livros, senhores. Foi um tipo que mora comigo e com quem, aliás, não mantenho grandes relações.

-O problema da morte é para vivos, e um velho começa a sê-lo menos.

-Só se imagina o que está ausente.

-Um livro não pode simplesmente distrair-nos. É necessário um "saldo" final que nos comprometa com a vida. Que nos perturbe.

-O contrário da verdade, não é mentira, mas a razão.

-Os pequenos crescem. Um modo de nós diminuirmos.

-Se te dizem que estás novo, é porque estás mesmo velho.

-Uma homenagem é uma forma de nos inscreverem na necrologia.