segunda-feira, 25 de julho de 2016

"O FIM DO HOMEM SOVIÉTICO" - SVETLANA ALEKSIEVITCH - LEITURAS 2016 - XXVII

melhor Livro do Ano 2013 pela revista Lire

Quase quinhentas páginas dando voz a pessoas recalcadas (desgostosas, tristes, angustiadas e tantos com tantas saudades da URSS, e outros tantos revelando fascínio por Estaline), dando voz a pessoas que foram vítimas do Estalinismo, revelando situações absolutamente macabras, diria até surrealistas (um chofer preso por ser parecido com Estaline), dando voz a centenas de testemunhas, os humilhados, os desiludidos, o homem e a mulher pós-soviéticos, para assim manter viva a memória da tragédia da URSS.
São descritas situações extremamente curiosas, interessantes de pessoas que toda a vida viveram numa sociedade e que passam, do dia para a noite, a viver noutra realidade totalmente inversa. Um calhamaço muito interessante com o senão, de se transformar nisso mesmo -um cahamaço- com demasiadas páginas, passando, também o leitor, a páginas tantas, do prazer à sensaboria -eu senti-o!

Volvidos mais de duas décadas sobre a desagregação da URSS, que permitiu aos Russos descobrir o mundo e ao mundo descobrir os Russos, e após um breve período de enamoramento, o final feliz tão aguardado pela história mundial tem vindo a ser sucessivamente adiado. O mundo parece voltar ao tempo da Guerra Fria.

Enquanto no Ocidente ainda se recorda a era Gorbatchov com alguma simpatia, na Rússia há quem procure esquecer esse período e o designe por a Catástrofe Russa. E, desde então, emergiu uma nova geração de russos, que anseia pela grandiosidade de outrora, ao mesmo tempo que exalta Estaline como um grande homem.


Svetlana Aleksievitch - Prémio Nobel da Literatura 2015



segunda-feira, 4 de julho de 2016

"A CANETA QUE ESCREVE E A QUE PRESCREVE" - LEITURAS 2016 - XXVI


Acabo de ler uma interessante antologia que reune uma selecção de textos literários sobre doença e Medicina, agregando excertos representativos das diferentes épocas da literatura portuguesa, que vai do século XIII (Pedro Hispano 1210-1277) até à actualidade, passando, entre outros, por Fernão Lopes, D. Duarte, Gil Vicente, Garcia de Orta, Fernão Mendes Pinto, Padre António Vieira, Bocage, Almeida Garrett, Camilo Castelo Branco, Aquilino Ribeiro, Florbela Espanca, Vergílio Ferreira, José Saramago, Gonçalo M. Tavares, entre muitos, muitos outros grandes escritores.

Estes textos mostram como a representação da doença acompanhou a produção literária ao longo dos séculos. São cento e trinta autores que aqui expõem a doença e a medicina ao longo de mais de setecentos anos, mostrando-nos situações estranhas, quase aberrantes, de desamparo e de fragilidade provocado pelo sofrimento físico ou anímico e as várias práticas doutros tempos em que, por vezes, a medicina era praticada por ferreiros, barbeiros e outras profissões.   

Esta selecção de textos sobre a doença e medicina na literatura portuguesa, foi organizada por Clara Crabbé Rocha com a colaboração de Teresa Jorge Ferreira, com prefácio de Rui Vilar, Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, que proporcionou a organização destes textos.   

Miguel Torga - o título deste livro foi extraído do seu Diário